Ame ou odeie Final Fantasy, se você já ouviu falar da franquia então sabe o sucesso e popularidade que ela tem. Nascida em 1987 pelas mãos da Square, que caminhava para a falência devido a lançamentos não muito lucrativos nos tempos passados, o jogo seria seu ultimato e caso não fizesse sucesso colocaria um fim na empresa (dai o titulo “Final Fantasy”). O mercado de RPGs eletrônicos ainda engatinhava naquela época. Nos PCs, seus números eram um pouco mais vistosos com o jogo Ultima (que assim como Final Fantasy compartilha um aspecto pessimista em seu nome :D) e com Wizardry, jogos influenciados pelos adventures de textos que foram precursores para as aventuras medievais com espadas e níveis. Nos vídeo games havia Dragonstomper no Atari ao Druaga no Tou (A Torre de Druaga) no NES, sendo seu primeiro RPG ainda que bem arcaico e diferente do que seria conhecido o gênero. Dentre os RPGs mais significantes tivemos o Dragon Quest, da rival Enix e um influenciador máximo do gênero ao lado de Final Fantasy, além de outro jogo que não era um RPG, embora muitos afirmam que sim e influenciou muitíssimo o gênero chamado “The Legend of Zelda“. E no natal de 1987, quando chegavam nas prateleiras outros títulos do gênero, como Faxanadu, The Magic of Scheherazade e até mesmo o segundo Dragon Quest, estava o primeiro Final Fantasy.
Alguns influenciadores do gênero (OU NÃO) que se tinha antes do primeiro FF.
O jogo nos apresentava um mundo medieval fantástico tipico do gênero, com influencias de Wizardry a Dungeons & Dragons (de onde se originou algumas das criaturas e seu famigerado e estressante sistema de magias). O sistema de fraquezas elementais por exemplo, era algo que não se via nos games orientais até Final Fantasy. O mundo possuía elfos e anões (oriundos de D&D), além de dragões com papeis de importância no mundo e até robôs (Final Fantasy desde o inicio se destacava por flertar com elementos nada comuns ao seu gênero). Mas mesmo com tudo isso, o foco aqui era o equilíbrio dos 4 elementos gregos: fogo, terra, água e ar e como estes afetavam o mundo. Na trama o mundo do jogo formado por três grandes continentes se encontrava em momentâneo colapso com os ventos morrendo, os mares enfurecidos e a terra secando. Porém, uma antiga profecia previa que quando as trevas e o desequilíbrio dos elementos afetassem o mundo, 4 jovens portadores de 4 cristais (orbes na versão americana), chamados de “Guerreiros da Luz”, surgiriam para restaurar o equilibro equilíbrio do mundo.
Controlando os 4 Guerreiros da Luz podíamos escolher seus nomes e classes, dentre 6 classes iniciais: o guerreiro (que possuía ótimo ataque e defesa feito para o combate), o ladrão (era bem fraco para o combate, mas podia roubar itens), o mago branco (usava magias brancas para curar e proteger), o mago negro (usava magias negras para atacar e enfeitiçar), o mago vermelho (uma espécie de coringa sendo bom no combate como um guerreiro e nas magias brancas e negras, sem ser excepcional em nenhum dos três fatores) e o Faixa Preta/Monge (podia causar dano massivo mas não podia usar armaduras). As batalhas, diferente de muitos games com um único personagem, ocorriam com o time inteiro contra um ou vários inimigos, e numa perspectiva também diferente, enquanto nos demais RPGs eletrônicos os confrontos se davam em primeira pessoa com poucas exceções, aqui a visão era em terceira pessoa com o time de personagens a direita e inimigos a esquerda. A visão dividia os times e possuía ainda uma pequena paisagem de horizonte, destacando o cenário de combate. Durante os confrontos, vários inimigos possuíam imagens estáticas ou paleta de cores similares, já os personagens eram mais animados, possuíam seus sprites para o mapa e versões maiores para as lutas, com movimento nos braços ao atacar, tremelicavam ao sofrer danos e podiam até ficar de joelhos ou caídos após ficarem fracos ou inconscientes. Magias e ataques tinham diferentes efeitos especiais. Uma espada elemental, por exemplo, exibia um característico brilho quando seus ataques eram desferidos e no efeito de corte ao atingir o alvo, as magias podiam ser vistas como diferentes labaredas mágicas disparadas pela mão do conjurador e em diferentes explosões multicoloridas ao atingir o alvo. Os mapas se dividiam em diferentes regiões e áreas que se refletiam durante as lutas na pequena paisagem de horizonte da tela, além de dividir graficamente os mares (onde se locomovia de navio) e os rios (onde se locomovia de canoa). As cidades eram cheias de NPCs que possuíam sempre vestimentas similares entre os habitantes de sua cidade mas diferente das demais, como se emulasse outro tipo de povo por meio de costumes visuais. Pode parecer estranho com toda a modernidade de hoje, mas mesmo dentre os fãs de Final Fantasy é difícil conseguir apreciar as limitações visuais do game. Ainda sim, o primeiro Final Fantasy era muito bem feito visualmente para sua época (ou no minimo muito esforçado para se fazer bonito).
Se Dragon Quest introduziu o JRPG, foi Final Fantasy que o popularizou.
O gameplay focava em viajar pelo mundo do jogo entre cidades e dungeons enfrentado inimigos e realizando objetivos. Nos combates o jogador podia atacar; usar magia; usar item ou até mesmo tentar fugir. Os ataques eram realizados primeiro pelos personagens e inimigos mais ágeis em batalhas em turno (também conhecido como “bate e espera“), cada personagem possuía seus próprios Hit-points a.k.a HP e caso desmaiassem precisavam ser revividos por igrejas (hospitais na versão americana) ou por uma magia de vida. As magias no game eram compradas como itens nas cidades. Haviam cerca de 8 níveis de magias brancas e mais 8 de magias negras, cada nível possuía 4 magias, no entanto, cada conjurador só podia aprender 3 magias diferentes do mesmo nível, por exemplo: um mago branco só pode aprender 3 das 4 magias disponíveis de nível 1, o mesmo serve para o mago negro e vermelho, embora em níveis mais altos de magias haja maiores restrições. Além de compradas, não havia MP no primeiro FF, aqui as magias tinham um numero de usos por nível, esse numero aumentava a medida que se subia de nível com o XP adquirido, em mais um sistema oriundo de Dungeons & Dragons. Nas cidades, o jogador podia comprar armaduras, armas, itens, se recuperar nos dormitórios ou se curar nos hospitais, tudo com a grana fornecida por tesouros ou lutas.
O game só podia ser salvo ao utilizar tendas ou outros itens para dormir no mapa.
Após criar os personagens, o game tinha inicio com a visita ao reino Cornelia, onde o melhor cavaleiro, Garland, havia caído em desgraça após se voltar contra seu povo sequestrando a princesa Sarah, filha do rei. Após a primeira missão, em busca pela princesa das garras de Garland (que após ser morto seu corpo desaparece), os guerreiros da luz provam seu valor e partem para sua quest principal: restabelecer o equilíbrio dos elementos e o brilho dos 4 cristais elementais. Ao chegar em tais cristais, a causa misteriosa do desequilíbrio era revelada: quatro demônios elementais sugavam a energia dos mesmos. Durante a quest principal o jogador era obrigado a cumprir uma série de objetivos menores para chegar até as ditas “dungeons elementais”. Em meio a estes objetivos acabamos por topar com um robô e posteriormente ainda mais tecnologia avançada, a exemplo de um “airship” (espécie de navio aéreo que ficaria muito popular na saga). Estes e outros elementos, antes só visto em ficção cientifica, mostram que Final Fantasy tinha muita coisa que tornaria ele um titulo único a seu modo em sua época. Sua trama começava simples, mas se desdobrava em algo muito fora do comum, similar ao que Chrono Trigger faria em seu lançamento.
Além da quest principal, havia outros objetivos secundários no jogo, como encontrar o Adamantine, que permitia construir a “Excalibur” ou realizar o teste de Bahamut, que daria a suas classes uma promoção, melhorando suas habilidades e por vezes adicionando outras.
A trilha sonora do game é praticamente lendária, repleta de musicas icônicas que mais tarde retornariam em games futuros, seja o tema de batalha ou a fanfarra de vitória, também famosa dentre os episódios da saga. “Opening Theme”, posteriormente nomeada de “Final Fantasy”, que era tocado no começo do game, marcava o inicio da jornada e representava tudo o que Final Fantasy é. Tal trilha sonora tinha um pai versado no assunto, o famosíssimo Nobuo Uematsu, que viria a se tornar referencia no gênero com músicas para Chrono Trigger e outros jogos do gênero. Final Fantasy tem seus méritos, mas mesmo assim possui problemas demasiadamente irritantes, principalmente em sua jogabilidade, que tornam sua versão original de NES um pesadelo de ser jogado hoje em dia. Sua dificuldade é terrivelmente alta em alguns pontos, ainda que para alguns isso seja visto como um jogo desafiante. Não havia Phoenix Down ou itens para reviver. Se por um acaso você desse o azar de perder seu único personagem com magia de reviver no meio de uma dungeon, poderia condenar sua time inteiro. Mexer nos menus do jogo também podia ser um sacrifício com a quantidade limitada de itens armaduras e armas que se podia carregar, o nada pratico sistema de troca de armas entre os personagens e as magias que não podiam ser retiradas após equipadas – Adicionou todas as magias, mas esqueceu de pegar essa nova magia mais potente de cura? Não tem mais ninguém pra colocar? Se deu mal –. Sem contar as magias bugadas, algumas das quais você necessita de montanhas de dinheiro para comprar e simplesmente não funcionam por erro de programação.
Apesar deste paragrafo gordo de problemas, o primeiro Final Fantasy consegue ser ótimo e um verdadeiro clássico dentre os JRPGs mais antigos. Mas recomenda-se: jogue somente um de seus inúmeros remakes, em especial do ótimo de GBA, Final Fantasy: Dawn of Souls.
PRÓS: Plot do jogo, trilha sonora, sistema de combate e classes e visual com atenção em mínimos detalhes.
CONTRAS: Dificuldade altíssima, sistema de magias que não podem ser trocadas, bugs e ausência de phoenix down ou itens para reviver os personagens de forma mais pratica.
Final Fantasy
Desenvolvedor: Square (atual Square Enix)
Publicadora: Square e Nintendo
Lançamento: 1987
Plataforma: NES (versão original), MSX2, Wonderswan Color, Playstation, Game Boy Advance, PSP, iOS, Android, Windows Phone, Nintendo 3DS.
Gênero: RPG
NOTA FINAL: 9.1
Esse texto foi originalmente publicado no site Alvanista no perfil thecriticgames