Retro Review | Resident Evil em sua sequencia promissora

O primeiro Resident Evil foi um marco para o gênero de horror no mundo dos games sendo para aqueles que não conheceram jogos como Alone in the Dark o verdadeiro nascimento do gênero no mundo dos games, ainda que seja com toda a certeza o nascimento da vertente survival horror na qual o jogador se vê com recursos como munição e itens de cura mais limitados para lidar com as ameaças devendo gerenciá-los e economiza-los muito bem para sobreviver. O jogo fez uma dose tremenda de sucesso com sua trama e jogatina ambientada em uma mansão decrépita cheia de mortos-vivos e outras criaturas e recebeu um ano após seu lançamento um update o Director’s Cut que trouxe certos acréscimos como desculpa pelo atraso do segundo jogo, que fora lançado poucos meses depois no inicio de 1998.

A trama deste episódio ocorria 2 meses após o primeiro game, onde descobrimos através das campanhas de Jill e Chris que a mansão e as criaturas canibais da montanha eram nada mais nada menos do que frutos isolados de experimentos da Umbrella, a grande empresa farmacêutica que tem ramificações e influencia em diversos setores, de cosméticos a tecnologia e que tem grande participação no desenvolvimento da própria cidade deles, a cidade de Racoon City. O T-Virus (Vírus Tyrant) um vírus que reanimava os cadáveres das vitimas na forma de mortos-vivos, mas que fora engenhado pela empresa com o propósito de ser o catalisador da criação de armas biológicas (ou BOW como são referidos as criaturas da série) era o elemento chave por trás de todos os problemas e a fonte das criaturas, dentre as quais os zumbis vistos no jogos, assim como outras criaturas engenhadas geneticamente como os reptilianos malditos Hunters, e o Tyrant o grande boss do game. O progresso da trama ainda acaba por revelar ainda que Wesker o capitão da S.T.A.R.S do Alpha Team especificamente era um traidor durante todo o tempo, tendo trabalhado na Umbrella na concepção de seus BOWs e do Vírus, o mesmo acaba  “morto” pelo Tyrant e este é destruído assim como a mansão e o laboratório da Umbrella por Chris e Jill.

Os protagonistas do primeiro game estavam, durante os eventos do segundo conduzindo suas próprias investigações, ou no caso de Jill sobrevivendo a um pesadelo ainda pior. | fonte: Resident Evil Wikia

Passado dois meses após este incidente acompanhamos na perspectiva de dois novos protagonistas, Leon Scott Kennedy um policial em seu primeiro dia de serviço em Racoon City que segue viagem para a cidade atrasado e Claire Redfield, irmã caçula de Chris que vai até a cidade visitar o seu irmão, porem o que ambos encontram é a cidade inteira devastada por uma praga zumbi. No decorrer do ataque zumbi ambos personagens se encontram e se ajudam, e após um acidente acabam ambos separados tendo de tentar se reencontrar, salvar quaisquer sobreviventes e escapar da cidade. O jogo assim como seu predecessor possui 2 campanhas, uma de Claire e outra de Leon estas separadas dessa vez em dois CDs diferentes no Playstation (tem gente que comprou Resident 2 na feira perto de casa com apenas um CD e nunca jogou a história completa ¯\_(ツ)_/¯) o que difere do primeiro game é que não apenas a dificuldade delas é a mesma (no primeiro game a campanha de Chris era notavelmente mais difícil que a de Jill em analogia aos níveis Easy e Hard de dificuldade) como também elas são mais complementares, enquanto o cenário canônico do primeiro game seria uma mistura de ambos cenários com os 4 sobreviventes Barry, Jill, Chris e Rebecca saindo vivos coisa que não pode ser visto com exatidão no jogo devido a fatores de gameplay o de RE2 parece funcionar melhor nesse quesito com as tramas ocorrendo paralelas contando inclusive com encontros de ambos os personagens em determinados pontos, alem de alguns enigmas e ações em uma campanha que influenciam diretamente a do outro (claro não é tudo perfeito, você vai destrancar as mesmas portas e resolver alguns dos mesmos puzzles 2 vezes nessas duas campanhas). A forma como as campanhas são jogadas também muda, se jogar primeiro com Leon e depois com Claire o gameplay e eventos da história serão notavelmente diferentes caso você jogue primeiro o cenário de Claire e depois o de Leon tendo essencialmente 4 campanhas ou cenários, Leon A seguido de Claire B ou Claire A seguido de Leon B (que contrario a muitas revistas BRs divulgavam na época é o cenário canônico).

Assim como Chris e Jill no primeiro game Leon e Claire contam com seus itens próprios, Isqueiro e Lockpick respectivamente, e assim como Chris Leon necessita de mini-chaves para abrir gavetas abertas com o Lockpick por Claire. | fonte: Gamefaqs

O gameplay funciona de forma similar ao do primeiro game, mantendo elementos comuns ao DNA de boa parte da saga como o controle de tank, o inventario limitado, os save points em maquinas de escrever com uso de Ink Ribbon, a cura por meio de ervas, alem da transição de cenários, sendo todos cenários pré-renderizados com modelos tridmensionais de personagens e itens. Puzzles também se fazem presente tão bem como o confronto contra criaturas com o uso de armas de fogo, a novidade principal mesmo é as já mencionadas interferências de cenários o denominado “Zapping System” que influencia alguns dos puzzles, itens e combates das campanhas, por exemplo em dado momento confrontamos no cenário A de qualquer personagem um policial recém zumbificado que é mais resistente que os demais, o confronto com ele pode ser evitado fugindo da sala, mas isso fara com que o segundo personagem no cenário B tenha de confronta-lo, de forma similar em dado momento encontramos um armário com 2 itens extremamente uteis, uma metralhadora poderosa que ocupa 2 espaços no inventario e uma bolsa que da 2 espaços a mais para o inventario do jogador (deixando o do mesmo tamanho do inventario original de Jill em RE1), se coletar um dos itens no cenário A o outro ficara disponível para o personagem do cenário B.

Se não derrotar o crocodilo gigante da forma certa o mesmo retorna pra atazanar o personagem do cenário B. | fonte: Resident Evil Wikia

No decorrer da fuga da cidade zumbificada novos personagens e elementos vão sendo encontrados e descobertos, topamos com outros sobreviventes como o policial Marvim e Robert Kendo, dono de uma loja de armas e amigo próximo de Barry sendo o responsável por fornecer armas para a S.T.A.R.S incluindo as armas customizadas feitas pelo próprio, temos personagens secundários de maior importância como o repórter investigativo Ben Bertolucci que se encontra preso por vontade própria na delegacia na esperança de se proteger dos zumbis e que sabe de detalhes conspiratórios envolvendo o chefe da policial Brian Irons, um chefe de policia de moral duvidosa encontrado por Claire. Assim como o primeiro jogo encontramos também personagens secundários controláveis em ambas campanhas, na de Leon topamos com Ada Wong, uma misteriosa mulher que esta em Racoon City a procura do repórter Ben e de seu namorado, o funcionário da Umbrela John (quem terminou o primeiro game inclusive deve ficar maluco nessa descoberta devido ao código de computador JOHN e ADA usado em um puzzle do primeiro game) e na campanha de Claire com Sherry Birkin uma garota fugindo dos zumbis a procura de seus pais na cidade, estes por sua vez William Birkin e Anette Birkin que não são meros personagens terciários a campanha.

Anette é uma esposa dedicada ao trabalho assim como William, o que a afastou demais de sua filha Sherry. | fonte: Gamefaqs

Revelações posteriores da trama (PARAGRAFO COM SPOILERS) revelam que Chris partiu para a Europa junto de Barry para investigar a ramificação principal da Umbrella após suas tentativas de denuncias a mesma serem encobertas por Brian Irons que recebia propina da Umbrella, o surto de zumbis ocorrido vem a ser revelado com tendo sido causado indiretamente por William Birkin, o pai de Sherry que junto de sua esposa realiza pesquisas desenvolvendo um vírus derivado do T-virus só que mais poderoso o G-virus (Vírus Gólgota) em segredo da Umbrella, porem o mesmo acaba sendo atacado por funcionários da Umbrella o esquadrão liderado por Hunk que o fuzila e rouba amostras dos vírus G e T que o mesmo detinha. Antes de morrer William injeta a si mesmo com uma amostra do G-Virus que tinha em mãos se transformando em uma terrível criatura que não apenas caça e mata o esquadrão como também devora as amostras restantes do G-Virus e quebra as amostras do T que com o auxilio de ratos se espalham pelo suprimento de água de boa parte da cidade de Racoon City.

O G-Virus é nomeado em referencia a Gólgota, ou Calvário onde Jesus foi crucificado sendo uma referencia a ressurreição de Jesus, e a “ressurreição” promovida pelo vírus em suas vitimas sempre realizando infinitamente novas mutações para contornar o dano sofrido, como o próprio braço de William que sofreu tiros pelo pessoal do Hunk virando um membro grotesco com um olho próprio. | fonte: Gamefaqs

O jogo tinha 13 armas ao todo, incluindo a faca, as armas secretas e as pistolas de Claire e de Leon que são diferentes (a de Leon possui um pente maior de balas) algumas armas mais exóticas também se fazem presente no jogo como um lança-chamas e uma arma de disparos elétricos a Spark Shot alem do retorno do lança granadas com suas munições normais, de fogo e acido, mas uma novidade notável com respeito a armas é a customização de algumas delas na campanha de Leon, por meio de partes encontradas é possível evoluir a pistola, magnum e shotgum para versões mais poderosas. Há 8 inimigos no game alem de 2 evoluções de inimigos comuns, dentre os clássicos zumbis, cerberus e corvos infectados há novidades como baratas mutantes proveniente do cenário mais urbano, mas uma criatura comum encontrada durante o game é o coringa daqui, tendo feito toda a fama dentro da saga sendo um dos BOWs mais assustadores do segundo game e mais famosos da saga o Licker, uma bizarra criatura humanoide com toda a musculatura e cérebros expostos com garras e com uma linguá preênsil capaz de perfurar suas vitimas originando também seu nome, o mesmo é protagonista de uma das impressivas CGs do jogo inclusive. No espectro de chefes temos mais 4 figuras, mas duas destas merecem notáveis menções, uma destas é o temido Mr. X, uma figura humanoide imponente alta com um casaco, e que apesar da aparência humanoide é na verdade um poderoso monstro e perseguidor que assombrara a campanha B de qualquer um dos personagens caçando-o, sendo essencialmente uma arma da Umbrella recuperar o G-Vírus, silencioso e mortal Mr. X aparece diversas vezes caçando o personagem podendo inclusive atravessar paredes para encontra-lo, o mesmo pode ser derrubado após alguns tiros, mas sempre se erguera para reaparecer posteriormente; a segunda figura digna de menção é o próprio William Birkin ou “G” como apelidado pelos fãs (tal nome por sua vez também é atribuído a outro boss relacionado ao G vírus) que devido a sua mutação se transformou em um horripilante monstro similar a um zumbi, mas maior e com mutações em seu braço (que fora o membro ferido antes de sua infecção) este reveza suas aparições entre os dois cenários sempre sofrendo mutações piores, mais drásticas resultando em nada menos que 5 formas diferentes encaradas durante o jogo.

O Licker se tornou assim como os Hunter inimigos famosos por toda a saga. | fonte: Gamefaqs

Tanto graficamente como sonoramente o jogo melhorou de forma notável, os cenários ainda que pré-renderizados passam maior credibilidade se comparados com os modelos tridimensionais de personagens e itens (versões de RE2 em consoles com gráficos de maior qualidade tendem a confundir esse elemento gerando maior diferença entre os personagens e cenários), os cenários alias possuem uma ambientação bem mais vasta e são mais impressivos do que a mansão do primeiro jogo, com algumas ruas da cidade, e o notável e labiríntico departamento de policia de Racoon City entre outras localizações visitadas como esgotos e os laboratórios da Umbrella, com respeito as cutscenes, adeus filmes em live action com atuações ruins, RE2 trouxe as emblemáticas CGs da era Playstation que tanto marcaram época, da introdução do game a aparição de monstros como Mr X e o Licker as mesmas são muito impressivas comparado ao que se tinha na época, os monstros novos até fora das CGs possuem um visual extremamente impressionantes e repugnante com notável menção de G que parece saído diretamente da mente de Cronenberg. Sonoramente o game recebeu uma dublagem bem mais digna e profissional (mas que ainda sim sofreu criticas na época :v) sendo também melhor escrito, embora clichês holywoodianos em cenas e frases sejam uma contante da metade para o fim do jogo, as musicas do jogo são algumas das melhores da era Playstation, com uma variedade de musicas abraçando os diferentes temas das cenas como suspense, desespero ou terror, notáveis musicas se fazem presente em algumas cenas tristes de mortes durante o game, ou ainda durante o confronto contra os chefes como o tema de Mr. X que sempre toca nos encontros com o mesmo casando sinistramente bem com o silencio do mesmo e os seus passos pesados e os três temas de William Birkin os assim denominados “malformations” que casam também de forma incrivelmente simétrica com os assustadores rugidos deste durante os encontros.

Mr. X era um adversário problemático e insistente, o mesmo felizmente só marcava presença em corredores. | fonte: Gamefaqs

O jogo ainda conta com alguns extras a serem liberados como o primeiro game como armas secretas com munição infinita (3 delas) e dois modos extras, um deles é o 4th Survivor (4° sobrevivente) onde controlamos Hunk, um dos sobreviventes do grupo massacrado por Birkin após sua mutação sendo os responsáveis indiretos pela infestação do virus pela cidade, em posse do G-vírus o jogador deve seguir dos esgotos até o telhado do departamento de policia com munição e itens de cura contados para ser retirado do lugar, o melhor desse mini-game é que o mesmo é canônico e Hunk inclusive se tornou um personagem querido por fãs, o outro modo é o Tofu Survivor, no qual controlamos Tofu, que é literalmente um pedaço de Tofu gigante que deve fazer o mesmo trajeto de Hunk contando apenas com uma faca e itens de cura, o mesmo em contrapartida é extremamente resistente e vai comicamente ficando vermelho a medida que se fere ou roxo quando envenenado e apesar de não ser canônico vale a pena pela comicidade da coisa toda inclusive no desfecho tragicômico para o pedaço de soja. O jogo recebeu ainda posteriormente uma versão com suporte ao Dual Shock que trouxe alem da obvia inclusão dois novos modos, o Arrange Mode onde começamos o jogo já com as armas secretas liberadas com munição infinita e os itens são rearranjados de lugar, sendo bem mais fácil obviamente, o segundo é o Extreme Battle um modo sucessor ao Battle Game da versão de Saturn do primeiro Resident Evil, a partir dessa versão RE2 ganhou diversos ports em outras plataformas com novidades amais, digna de nota é a versão de Nintendo 64 que independente de seus extras é um marco da programação considerando as limitações de cartuchos.

O pedaço de Tofu fala, em quaisquer versões do jogo em japonês, mais especificamente no dialeto de Kansai que é considerado um dialeto rude e melódico pelos falantes da linguá nipônica, o que só deixa a situação toda mais cômica. | fonte: Giant Bomb

Apesar de tudo RE2 não é livre de seus problemas, o sistema de itens desbloqueados por ranking, agora representado por letras é cruel, obrigando por exemplo a quem quiser desbloquear o minigame do Tofu terminar 6 vezes seguidas o game com ranking A, e para alcançar tal ranking alem da zeratina em menos de 2 horas é necessário evitar usar saves ou sprays de cura (felizmente a versão Dual Shock contava com um curioso código de munição infinita que ajudava nós que somos ruins :v). O voice acting apesar da grande melhoria e do roteiro e história mais atmosférico e inteligente sofreu criticas na época (as quais eu não concordo nem compactuo), e apesar da quantidade de munição ter tornado o jogo mais fácil do que o seu predecessor que te obrigava por parte do jogo a poupar munição a todo custo ele ainda pode cansar com seu inventario apertado que causara muitos “vai e vens” no bau o infame backtracking, em parte por conta de dois puzzles de cenários diferentes que necessitam de vários itens para serem resolvidos.

Sem mais, Resident Evil 2 com ou sem seus pormenores é um dos melhores games do Playstation e de sua época, e que esta para receber o seu remake para a geração PS4, é torcer para que fique tão bom quanto.


PRÓS: Sistema de cenários Zapping System, trilha sonora, CGs, plot e criaturas.

CONTRAS: Dificuldade de liberar os desbloquaveis.

Resident Evil 2

Desenvolvedor: Capcom

Publicadora: Capcom

Lançamento: 1998 (Original e Dual Shock Edition)

Plataforma: Playstation, Windows, Nintendo 64, Dreamcast e Game Cube.

Gênero: Ação e aventura (Survival Horror)

NOTA FINAL: 9.5


Esse texto foi originalmente publicado no site Alvanista no perfil thecriticgames

Post Author: O Critico

Aspirante a escritor, investidor e criador de gado. ​"Minha vida se resume a jogar tudo que existe de bom antes da morte..." Me procure no Alvanista http://alvanista.com/thecriticgames

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