Análise: Sim, a Netflix pode te (Des)encantar

Era uma vez uma princesa, às vésperas do casamento com um príncipe de um reino distante, que deveria selar uma aliança com o reino da Terra dos Sonhos. Até aí tudo bem clichê, não fosse o fato de que a princesa é completamente o contrário dos padrões estabelecidos pelas fábulas. Ela bebe, se mete em apostas, sai de casa e só volta a hora que bem entender.

Essa foi a história apresentada pela Netflix que me convenceu a assistir (Des)encanto, desenho do mesmo criador de Simpsons e Futurama, Matt Groening. A série estreou no dia 17 de agosto deste ano e me deixou bastante dividido. Não me baseei na fama do criador, porquê nunca fui tão interessado em Simpsons quanto a maioria dos meus amigos e até então, não tinha assistido Futurama, desenho que comecei a ver na semana passada e estou adorando.

Então tirando a fama do produtor, ficou mesmo o mote. Bean, uma princesa que bebe todas, tenta fugir de seu casamento e acaba conhecendo duas figuras que a acompanham em todos os episódios: o Elfo, uma figura um tanto quanto boba e bondosa e Luci, um mini demônio que só quer ver o circo pegar fogo.

O trailer é incrível, a dublagem é fantástica, a história é interessante, mas o roteiro não segura o potencial da história e a dublagem peca ao localizar o desenho de forma excessiva. De fato o desenho foge dos padrões de princesa a que estamos acostumados e isso é muito bom mesmo. Só que faltou uma trama coesa para segurar toda a loucura de Bean. Eu passei do primeiro episódio ainda com certa empolgação, mas já no quarto estava assistindo só para terminar e até que dei algumas risadas no meio do caminho. Acredito que algumas histórias mais interessantes poderiam ter sido ou adiantadas ou servir de inspiração para o começo da série, porque os primeiros episódios mostram pouca coisa além do que foi apresentado pelos trailers, enquanto outros são muito empolgantes. Nos três últimos capítulos parece que os produtores tiveram uma enxurrada de ideias e quiseram colocar tudo até o fim da série. E ainda nos deixaram com um final sugestivo. Sim, aparentemente teremos uma segunda temporada.

Agora a dublagem. Particularmente, eu prefiro assistir desenhos sempre dublados, porquê a qualidade brasileira é simplesmente incrível. Não que eu não goste de outros idiomas, longe disso. Mas aqui a escolha certeira das vozes foi omitida pela mão pesada dos memes. Na tentativa de localizar as piadas para o público brasileiro, a produção errou feio errou rude. Por diversos momentos aparecem memes famosos da internet, como: “Tá pegando fogo bicho”, “A manteiga chega a derreter”, “As árvores somos nozes”, “A vontade de rir é grande, mas a de chorar é maior”. Confesso que curti vários desses momentos e alguns encaixaram perfeitamente. Porém, o erro foi adaptar ou até mesmo inserir piadas quando não cabia no contexto ou simplesmente não havia nenhuma necessidade. Lembro de um episódio que em apenas cinco minutos apareceram três memes desse estilo que citei acima. Isso é necessário, até porque existem piadas que só quem mora nos Estados Unidos entende. Porém, ficou cansativo.

Agora vamos às personalidades dos principais personagens. A Bean representa o que nos foi apresentado nas propagandas e me agradou bastante, da dublagem às escolhas que ela faz. Mostra que só deseja viver a própria vida e não vai deixar que seu pai ou um príncipe qualquer prenda ela em um compromisso real. Ela representa uma mulher que está cansada de viver em uma sociedade patriarcal. Vale à pena assistir só por causa de Bean. A bebedeira dela é justificada pela ausência da mãe e pelo comportamento extremamente protetor do pai.

Como se Bean já não fosse o bastante, temos Luci, o demônio que é confundido com um gato. Esse carinha é sensacional. Ele equilibra a trama e torna tudo mais divertido. Aliás, dizem que proibido é mais gostoso. O papel dele foi muito bem aproveitado, com demonstrações de deboche, sarcasmo e conselhos que você olha e diz: isso vai dar merda em algum momento. Ele encoraja Bean a seguir o que deseja, o que claro, nem sempre é politicamente correto. Luci também exerce um papel crítico, sem deixar de divertir.

Já o Elfo é uma figura oposta ao Luci e em alguns momentos empaca a história e só cria dificuldades. Mas claro que esse é o papel dele. Esse carinha verde também demonstra coragem, pois abandonou a floresta dos elfos para perseguir o sonho de conhecer o “mundo lá fora” e acaba se mostrando bastante útil. Ele é inocente, muito inocente. É uma figura carinhosa e busca ser um anjo bom da Bean, mas também se deixa cair na tentação e carrega uma dose de ironia.

O rei Zog só pensa em fazer alianças, em comilança e quer sempre mostrar que é superior a todos do reinado. Entretanto, existe um motivo até que convincente para justificar a arrogância dele. E quando isso é apresentado chegamos ao ponto dos últimos três episódios, da reviravolta e da chuva de ideias e brechas para uma segunda temporada, por mais que pareça que a história terminaria ali mesmo – até gostei que não tenha terminado. A partir desse momento de revelação, ele se mostra um pai e esposo amável e protetor, diferente daquele pai arrogante e inconveniente do começo da série.

Outras figuras aparecem com bastante frequência, como o feiticeiro e o conselheiro do rei. Eles podem parecer patéticos e dispensáveis, mas são decisivos em alguns momentos e até mesmo justificam a continuação da história, ainda mais em companhia do Elfo, mesmo que seja pela motivação do rei.

Bom, essas foram as minhas impressões mais marcantes de (Des)encanto. Um tanto quanto negativas sim, pois eu esperava bastante. Ainda mais tendo visto outros desenhos produzidos para a Netflix, todos de muita qualidade. E apesar dos pesares, digo que vale à pena você sentar no sofá e testar. Veja se te agrada e comente aqui com a gente. Você se encantou ou foi desencantado?

https://www.youtube.com/watch?v=1mpC6OC0EsQ

Post Author: GiovanniT

Estudante de jornalismo e gamer desde sempre. Quando criança teve apenas um Dynavision e um PC razoável. A felicidade maior foi quando conheceu a Steam e comprou seu Xbox One. Gamertag/Live: Dukalav

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