E aí, Joystickers!
Neste artigo, gostaria de trazer para discussão mais uma vez Hellblade, um dos games que mais causou furor ao ser lançado ano passado. O título não apenas apresentava gráficos super realistas, áudio de alta qualidade em 3D e puzzles inteligentes, mas também trazia à tona uma temática pesada, pouco explorada pelos jogos.
Hellblade é impressionante, especialmente levando em consideração o fato de se tratar de um título indie. Imagem: http://www.hellblade.com/portfolio_page/e3-screen-2/
Helblade: Senua’s Sacrifice foi lançado para PC e PS4, e o fato de que sua produtora, a Ninja Theory, desenvolveu o game com aspectos técnicos extremamente bem trabalhados sem apoio financeiro de grandes publishers como Capcom e EA chamou muita atenção. O game é o que chamamos na indústria de jogo AA, mais avançado que a maioria dos títulos indie, mas com algumas limitações comparados a jogos AAA, especialmente financeiras. Para efeito de curiosidade, o estúdio também foi responsável por títulos como Heavenly Sword e o reboot de Devil May Cry.
De acordo com a descrição na Steam, o jogo narra a jornada de Senua por Helheim, o mundo dos mortos na mitologia nórdica, para salvar a alma de seu amado. Em um primeiro momento, parece se tratar de mais uma história de amor clichê vista aos montes na mídia. Porém, logo no início do gameplay, Hellblade apresenta seu maior diferencial: diversas vozes atormentam Senua durante sua jornada – algumas a incentivam, outras a desencorajam, e outras ainda zombam da jovem guerreira, e é aí que o jogo brilha. Essas vozes são características de doenças mentais, como a esquizofrenia. Há ainda quem acredite que toda a jornada da guerreira é uma alucinação, uma guerra interna para retomar o controle de seus pensamentos.
O começo da jornada deixa claro que Senua sofre de perturbações, características de distúrbios mentais. Imagem: http://www.hellblade.com/portfolio_page/senua-boat/
Diversos diários de desenvolvimento, que podem ser vistos aqui, mostram os esforços da produtora em retratar com fidelidade o sofrimento de pessoas que apresentam distúrbios mentais – os desenvolvedores trabalharam sob constante consultoria de neurocientistas e de pessoas que passaram por psicoses. A intenção da Ninja Theory é justamente abordar de forma singela um tema que recebe pouca atenção de todos nós. Um dos principais pontos em desenvolvimento de jogos é definir exatamente qual é a experiência que você quer que seu jogador tenha ao jogar seu game, e sem dúvida Hellblade quer que sintamos as dificuldades que pessoas que possuem doenças mentais passam, atingindo sua meta com louvor.
Há vários detalhes e momentos que reforçam a ideia de que Senua está sofrendo com alucinações. Imagem: http://cdn.akamai.steamstatic.com/steam/apps/414340/ss_3d5d9400db904c5c9a94f0b36f52e9d3dab20eb2.jpg?t=1516374741
Isso só mostra como os jogos são uma mídia extremamente poderosa, que poderia ir muito mais longe do que já tem ido, explorando não só jornadas fantásticas e mundos mitológicos, como também as jornadas heroicas que muitas pessoas passam diariamente no mundo real. Hellblade vai além, demonstrando que não precisamos abrir mão da fantasia para abordar assuntos de suma importância que frequentemente não damos a devida atenção. Como desenvolvedor e jogador assíduo, espero que mais colegas da indústria possam criar coragem para produzir experiências tão impactantes e emocionantes como Hellblade, e que também eu possa um dia chamar a atenção dos jogadores com um título que não só divirta e mostre um alto nível técnico, mas que também conscientize para os problemas que presenciamos em nosso cotidiano.
E você, jogou Hellblade? O que achou? Também imagina que tudo não passe de uma alucinação? Comente aí!