Análise | Dragon Ball Super: Broly

ATENÇÃO! ANÁLISE COM SPOILERS

Dragon Ball é uma franquia com anos de história nos mangás, TV, games e todo tipo de mídia possível. A obra de Akira Toryama, que surgiu nos mangás em 1984, é um tremendo sucesso há anos, sendo uma das obras nipônicas mais populares do mundo. A série é a segunda obra de maior sucesso de Akira Toryama no Japão (só perdendo para seu mangá de comédia, Arale, que também já teve seus crossovers com Goku e cia). A obra que envolvia o jovem Goku evoluiu com o passar dos anos, tornando-se um dos shonens (gênero de manga voltado para jovens e adolescentes) mais populares de todos os tempos, principalmente em sua fase Z, como é denominada no anime, onde ganhou diversos adereços de ficção científica com a introdução das origens extraterrestres de Goku, Piccolo, das Dragon Balls e a formação de toda uma mitologia abordada em sua enorme obra, que reúne também vários filmes animados, 19 para ser mais especifico, somando a da sua fase clássica e a recente Super (isso se você considerar A Batalha dos Deuses e a Ressurreição de Freeza como parte do Super, já que os mesmos são explicitamente filmes da saga Z). Dentre os mencionados filmes, tivemos o nascimento de um dos personagens mais populares da franquia, o vilão Broly, que é o astro deste filme.

Muitos fãs até hoje não sabem, mas os filmes da série não são canônicos, isto é, não fazem parte da cronologia oficial da saga; o único que poderia ser colocado como parte do canon do anime, e não do mangá, é o 4° filme, Dragon Ball Z: Devolva-me Gohan!!, que traça a primeira aparição do vilão Galick Junior, presente nos fillers do anime. Há sim no cenário canônico, até dado momento, os especiais de TV abordando a história de Bardock, o pai de Goku, o especial envolvendo as origens do Trunks do Futuro (Mirai-Trunks como é denominado em japonês), o especial com o irmão do Vegeta, de 2008, e o especial do Bardock, que, alias, sofre um retcon neste novo filme.

Dragon Ball Super: Broly já se destaca pelo fato do filme ser dividido em dois atos: no primeiro, acompanhamos as origens de Goku, Vegeta, Freeza e do antagonista principal, Broly, com toda a narrativa ocorrendo em torno do Planeta Vegeta; o segundo ato já traça o presente, com a aparição de Broly se tornando um novo desafio no caminho dos protagonistas.

O primeiro ato é certamente o mais interessante para fãs de longa data, visto que, comparado ao detalhismo narrativo de animes e obras atuais, Dragon Ball sempre foi deveras simplificado e direto, não ficando tanto a mercê de suas narrativas. O filme adora essa regra, contando de forma interessante as origens do trio de saiyajins, que estrelam o filme. O estopim da trama acaba sendo a aposentadoria de Cold, pai de Frieza, que comandava mundos inteiros, inclusive o mundo dos Saiyajins. Cold resolve, a bel prazer, deixar o seu império nas mãos de seu cruel e tirano filho pelo simples fato que o mesmo nasceu mais maligno que ele. O jovem Frieza não demora a demonstrar seu poderio e maldade durante a entrega dos famosos Scouters de leitura de ki. Em meio a mais uma humilhação sofrida, o Rei Vegeta se prepara para o futuro de seu recém nascido filho, Vegeta, que possui um grande poder latente. Para sua surpresa, outra criança do mesmo recinto, Broly, filho do general Paragus, demonstra um poder ainda maior e mais monstruoso, obrigando-o, por receio e inveja, expulsar Broly, ainda bebê, para um planeta distante e deserto contra a vontade de Paragus. Paragus vai atrás do filho, ficando preso após a queda de sua nave. Iisso mostra a primeira mudança principal nas origens de Broly: enquanto o vilão antigo tinha um ódio mortal de Goku por conta de um imprint de sua voz (que ainda quando bebê chorava sem parar, não deixando o bebê Broly dormir – sim, essa é a origem do ódio do Broly original se você nunca viu o filme antigo), o novo tem seu ódio por influência de seu pai, dando uma carga de protagonista ao príncipe, ao menos teoricamente. O filme realiza um salto temporal de anos com Bardock, voltando ao planeta, a pedido de Freeza, assim como todos os demais saiyajins, temendo pelo pior. Após ouvir os boatos da menção de “Lendario Super Saiyajin” e “Saiyajin Deus”, Bardock resolve tentar salvar seu filho Kakaroto (o nosso Goku) ainda bebe, 5 anos mais jovem que Vegeta e Broly. A cena, além de apresentar a aqueles que não conheciam a mãe de Goku, Ginea, também faz um retcon no especial de Bardock e até na personalidade do mesmo. Enquanto muita gente provavelmente vai torcer o nariz com o novo Bardock, visto que o antigo era menos pensativo, como típico dos saiyajins, e não dava a mínima para seu filho, o novo Bardock demonstra o desejo de salva-lo, por um motivo até digno de emoção nesse prólogo. Apesar disso, o especial de Bardock ainda tem uma leve homenagem na forma da morte do mesmo, tentando, sem sucesso, parar o ataque de Frieza com seu Final Spirit Cannon. O primeiro ato não vive apenas de uma narrativa levemente mais densa e de um retcon, mas também de alguns cameos interessantes, como o pequeno Raditz, assim como um Nappa mais jovem, já acompanhados pelo também jovem príncipe Vegeta.

Bardock e Gine, pai e mãe de Goku, enviando, sem escolha, seu filho em uma nave a salvo para outro planeta (qualquer paralelo com Superman não é mera coincidência).

Enquanto o primeiro ato é pura história e narrativa, temos no segundo o que Dragon Ball faz de melhor: porrada, porrada e mais porrada. Aqui a trama ocorre após o fim do Torneio do Poder de Super, com menções inclusive a este. Deixe-me aproveitar o momento para citar um aspecto fundamental do filme, que é a sua animação: se Super foi digno durante boa parte de duras e merecidas criticas por conta da animação datada, barateada e mal feita, o filme é o pedido de desculpas perfeito, com a animação mais impecável de combates de toda a saga, não apenas pela tecnologia mais avançada, mas também pela coreografia dos combates, que  evitam ao máximo a troca de murros rápida e típica que marca boa parte das lutas de toda a saga (sejamos francos, se tornou, ainda que excitante, um vicio preguiçoso dos combates da saga). Aqui, a troca de murros, a forma como os personagens caem, rolam, procuram brechas onde bater e golpear, e claro, na forma que personagens voam e que seus poderes funcionam são incrivelmente limpos e bonitos, ainda mais na tela do cinema. Há alguns momentos em que é utilizado um modelo 3D dos personagens para cenas que usam movimentos rotatório de câmera, que são bem feitas e irão mais impressionar do que incomodar os telespectadores. Isso não é uma coisa de outro mundo, é apenas Dragon Ball sendo feito com mais dinheiro. Quase como um ótimo fã service, aproveitando a animação, estão as transformações de Super Saiyajin, Saiyajin Deus e Super Saiyajin Azul que, mesmo já sendo manjadas, possuem animações e efeitos de cair o queixo (são até demoradas, honrando a primeira vez que cada personagem se transformou nela). Tais efeitos são também impressivos, no que parecem ser novas técnicas sem nome dos personagens, como uma utilizada por Goku, em sua forma de Sayajin Deus para imobilizar Broly. Trata-se de algo bem interessante, parecendo até uma sub-espécie do Mafuuba do Mestre Kame.

O segundo ato tem inicio com o desaparecimento de 6 das Dragon Balls que estavam em posse de Bulma. O sumiço se dá graças aos homens a mando de Frieza, que, estando vivo normalmente após o fim do Torneio do Poder, busca vingança contra Goku e também as Esferas do Dragão. Para um propósito super inusitado e cósmico, o eterno vilão não tem um papel tão significativo no longa como os trailers demonstravam, funcionando basicamente como gatilho para o desenrolar da trama. Curiosamente, ele desempenha majoritariamente no filme um papel cômico, rendendo, principalmente com o envolver de Broly, algumas das cenas mais engraçadas que eu, um humilde fã de Dragon Ball, vi no decorrer da série. É estranho, mas da pra se acostumar, já que o vilão consegue ser o bom e velho sádico Frieza que conhecemos, ao mesmo tempo que, involuntariamente, traz um desenrolar digno de gargalhadas.

Os homens de Frieza que encontram Broly são Lemo e Cheelao: o primeiro, um veterano das tropas desde os tempos de Cold; a segunda, uma delinquente caloura nas tropas. Ambos, apesar de serem simples coadjuvantes, tem papel extenso no filme, uma vez que são os responsáveis por encontrar Broly e seu pai, e, por consequência do destino, se afeiçoam com o saiyajin genocida. Broly tem mudanças consideráveis na personalidade. O novo Broly tem uma personalidade gentil, com exceção dos surtos de raiva em situações que envolvem combate, o que geralmente o faz se tornar a força da natureza que todos conhecemos, Apesar disso, o mesmo possui um lado mais sociável, diferente do bruto agressivo voltado apenas para o combate. Independente disso, o novo Broly só tem melhorias quando colocado lado  lado com sua antiga versão.

O novo Broly (Broly:BR segundo é oficialmente nomeado para diferenciar de sua versão antiga) é mais racional, mas nem por isso pouco poderoso, conseguindo lutar contra as formas mais poderosas dos heróis com pouca dificuldade.

Do alistamento de Broly e seu pai as tropas de Frieza até o momento em que chega na terra em diante o filme parte para as ótimas lutas bem coreografas. Um ponto já citado sobre os combates estão nos belíssimos efeitos das transformações dos protagonistas. O filme flui pelos combates contra Broly com Goku e Vegeta usando a maioria de suas formas. Até mesmo os segundo com os personagens em suas formas mais básicas rendem combates incríveis. Uma pena não termos vislumbrado o impressivo Super Saiyajin 3 nessa nova animação (que não aparece muito por ai, curiosidades a parte, por ser extremamente caro de se anima-lo). O longa acerta ao deixar as batalhas serem protagonizadas mais por Goku e Vegeta, Gohan e cia se quer dão as caras aqui. Piccolo ainda aparece e, embora pareça ser uma participação simplória, ela tem sim uma função simples e interessante: homenagear os filmes passados, onde Piccolo quase sempre aparece em uma introdução fantástica e estoico como sempre (ainda que devido ao protagonismo de Goku nos filmes, Piccolo sempre se resumia a MAIS UM saco de pancada); aqui ele tem um papel simplório auxiliando a dupla de heróis naquilo  que não é spoiler para ninguém que devido aos trailers, a aparição de Gogeta, outra figura favorita dos fãs sem aparições canônicas fora dos filmes e que agora faz parte do cannon (o mesmo aparece em GT, mas GT não tinha muita atenção com o que é canônico ou não). Gogeta é super bem utilizado dentro do filme, comparado a sua aparição original no 12° filme da saga, lutando em suas formas base, super saiyajin e super saiyajin azul, e é claro protagoniza na luta contra Broly as melhores coreografias do filme. Até o seu clássico golpe, o “Stardust Breaker” dá as caras, e, no geral, é uma decisão melhor do que a reaparição do “Instinto Superior” como alguns achavam que seria a forma de derrotar Broly. Além de ser uma óbvia vitória para Goku, também tornaria o mesmo clichê irritante de jogar o destino nas mãos do protagonismo de Goku.

Gogeta teve também sua merecida canonização, e dessa vez com um tempo mais digno de tela.

A conclusão do filme também não deixa a desejar, sendo uma solução que abre espaço para novas aparições de Broly (sim, spoiler, ele esta vivo). Só espero que o mesmo não seja subutilizado excessivamente daqui em diante. A versão nacional do filme conta com os já famigerados dubladores: todos os dubladores antigos retornam, até mesmo os de personagens com pouco tempo de tela, como Cold e Bardock. Dado Monteiro, que dublou Broly nos filmes antigos, retorna e acaba dublando bem mais nesse filme do que em todos os três filmes passados juntos, onde Broly mais urrava do que falava. Se a sua epopeia assistindo Super o fez desacostumar com as vozes brasileiras, fique feliz de saber que a dublagem não ficou devendo nada para a nipônica, nem mesmo nos gritos orgásmicos de fúria do antagonista raivoso. Some isso com os sons das porradas e poderes num cinema de qualidade e você terá uma experiência incrível. Vá assistir Dragon Ball Super Broly em um cinema de qualidade!

Imagens: Dragon Ball Wiki

Post Author: O Critico

Aspirante a escritor, investidor e criador de gado. ​"Minha vida se resume a jogar tudo que existe de bom antes da morte..." Me procure no Alvanista http://alvanista.com/thecriticgames

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *