O Fenômeno Kingdom Hearts

E aí, Joystickers!

Remy, o pequeno chef de Ratatouille, prepara pratos junto a Sora, em um sistema semelhante a Ignis em Final Fantasy XV. Imagem: Renan Dores

Depois de mais de uma década de espera, os fãs de Kingdom Hearts finalmente presenciaram o lançamento do terceiro título numerado da saga no dia 25 de Janeiro de 2019 no Japão, e no dia 29 de Janeiro do mesmo ano no restante do mundo. Como um bom fã, fiz minha reserva do jogo seis meses antes do lançamento, contando ansiosamente cada dia até que pudesse jogar o game que tanto esperava. O acesso ao título foi liberado às 3 da manhã, e já mergulhei de cabeça, extremamente animado e emocionado. Na semana anterior ao lançamento, refleti bastante sobre se deveria realmente escrever um review sobre o game, e cheguei à conclusão de que queria fazer algo diferente, uma reflexão acerca de Kingdom Hearts III e de toda a saga.

As transformações das Keyblades são um dos maiores destaques do game. Imagem: Renan Dores

Durante a E3 do ano passado, um novo trailer de gameplay de Kingdom Hearts III foi lançado durante uma live transmitida pela própria Square Enix. Tenho um longo histórico com a saga: Kingdom Hearts II foi um dos primeiros jogo que tive para PS2, e era um dos que não saiam do compartimento de disco do console. Havia algo encantador e especial naquele game que capturou minha atenção e centenas de horas da minha rotina. Empolgado com o novo trailer, decidi comentar com um amigo. “Não dá para levar a sério algo que tenha o Mickey no meio”, disse. Cheguei a ouvir o mesmo de outro amigo, e a cada trailer novo começava a pensar mais e mais a respeito. Inspirado por essas situações, decidi escrever este artigo. Recapitulando uma história que você provavelmente já ouviu, Kingdom Hearts nasceu de uma conversa de elevador entre executivos da Disney e da Squaresoft (anos mais tarde, a companhia se juntaria com a Enix, uma concorrente, para formar a Publisher que hoje conhecemos). Os escritórios japoneses de ambas as empresas estavam instalados no mesmo prédio na época. Havia muito receio – poderia mesmo um crossover entre Final Fantasy e mundos Disney fazer sucesso? O primeiro título foi lançado em 2002. Dezessete anos e mais de 10 títulos depois, Kingdom Hearts III é lançado. Não apenas a ideia havia feito sucesso, mas se tornado algo grandioso, sendo muito discutido devido ao seu complexo enredo.

“Enrolados” é uma das novas franquias a aparecer em Kingdom Hearts. Imagem: Renan Dores

E o que faz de Kingdom Hearts tão especial? À primeira vista, a presença de elementos de Final Fantasy, bem como elementos do universo Disney, são grandes fatores. Fãs desses universos se sentiriam no mínimo inclinados a experimentar do que se trata, afinal um garoto de cabelo espetado lutando com uma chave gigante ao lado de Donald, Pateta e Cloud no Monte Olimpo. Contudo, há muito mais por trás deste contato inicial. Sora resgata uma inocência infantil nos jogadores. Ele não mede esforços para fazer o que pode pelos amigos e até mesmo por quem acabara de conhecer. O garoto está sempre seguindo adiante independente dos obstáculos, e nos ensina, em meio a toda inocência que possui, a sempre olharmos para frente e nos dedicarmos a estarmos firmes na luta por aquilo que almejamos. O combate, dito por vezes como um “esmagar de botões”, também é parte crucial da fórmula. Ainda que de fato simples, empodera o jogador como poucos jogos, com animações extremamente bem trabalhadas e uma série de feedbacks físicos, visuais e sonoros que fazem o jogador sentir cada impacto. Por fim, um dos principais pontos, a memória afetiva. Muitos dos jogadores cresceram jogando Final Fantasy, ou assistindo à animações da Disney, e poder vivenciar essa experiência em um game como Kingdom Hearts é algo extremamente especial. Mais ainda, esses jogadores também cresceram jogando Kingdom Hearts, e guardam memórias da infância com títulos da série, como eu: lembro-me de passar meus sábados imerso no mundo de Tron em Kingdom Hearts II, sendo meu mundo favorito em meu game preferido da saga.

Twilight Town também retorna repaginado, com visuais e música de arrancar lágrimas. Imagem: Renan Dores

Falando de Kingdom Hearts III, o título reúne o que a saga tem de melhor. O combate foi refinado, agregando elementos de outros títulos da franquia de modo a chegar em algo fácil de aprender, mas complexo de dominar. Tudo flui com muita leveza, e emendar ataques se mostra algo bastante natural. Os ataques especiais, transformações das Keyblades e outros poderes elevam tudo a um novo patamar, mas de maneira relativamente bem balanceada – mesmo com tanto poder, os inimigos ainda exigem estratégia e atenção. Tudo é muito grandioso, com mundos vastos e de verticalidade bastante explorada, uma novidade muito bem-vinda. Apesar de complexo, há um esforço visível em auxiliar velhos fãs e novatos a mergulharem no enredo, tornando as coisas mais amigáveis, e o final é de arrasar qualquer fã. Além de tudo isso, é indescritível encontrar personagens e vivenciar momentos marcantes de filmes da Disney em primeira mão. Kingdom Hearts III não é livre de falhas – viajar usando a gummi ship ainda passa a sensação de obrigação, de quebra do ritmo, apesar de ser bem menos irritante desta vez, já que a maioria dos combates são opcionais. Alguns outros momentos também são um tanto arrastados, como em Arendelle, de Frozen. Ainda assim, o prazer proporcionado pela jogabilidade e o apelo às memórias da infância falam mais alto – jogar o game chega a ser surreal, e as primeiras horas do game me deixaram com um enorme sorriso. Caso tenha ficado curioso, o título definitivamente merece uma chance. Mas se ainda assim acredita que não é um título para você, não há problemas – espero apenas ter esclarecido a razão deste crossover tão estranho fazer tanto sucesso. Kingdom Hearts III já está disponível para PlayStation 4 e Xbox One.

Post Author: Renan da Silva Dores

Renan é um desenvolvedor de jogos recém-formado pela PUC-SP, e joga desde que se entende por gente. Tem mais afinidade pelos exclusivos da Sony, mas se tivesse dinheiro o suficiente, teria todas as plataformas sem pensar. Ama ler, ouvir música, e é um aficionado por tecnologia, sendo secretamente um replicante (Cyberpunk na veia). Atualmente, dá aulas de inglês enquanto caça uma oportunidade no ramo de jogos.

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